sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Capítulo VIII de "A espera também cansa"
O vento cortante desta tarde de inverno rigoroso move-se muito depressa, querendo imobilizar-nos no vazio da cidade; o frio faz com que seja imune às vossas atitudes, tornando-me resistente a tudo da vossa parte, estou agora apta para o que der e vier, espero até mesmo as consequências que pode trazer a minha postura.
Choro, choro muito, mas dentro de quatro paredes que me são muito familiares, não sou de me expôr, a não ser que saiba que estou 100% segura ao fazê-lo com quem melhor me protege, com abraços que me afagam a cabeça e interrompem os soluços do meu choro; fora disso, sabem que sou firme na minha decisão, de ideias fixas e com um feitio indomável muitas das vezes difícil de lidar. Gosto de pensar por mim própria, acreditar nas minhas capacidades e naquilo que sei e que quero fazer, exigir o máximo de mim e para mim, elevar a fasquia das expectativas e aceitar que não há espaço para um não ou para um medíocre talvez, um não sei... Dizes que gostas da minha maneira de pensar, reparas nos pequenos pormenores, nas pistas que te vou deixando ao longo de todo o caminho, e és raro por conseguir acompanhar o meu passo.
Tinha ainda pensado em dizer-te alguma coisa, em fazer-te alguma coisa, mas acabei por me deixar consumir pelo o orgulho e não o fiz.
Por momentos tive uma vontade imensa de te chamar, exigir que viesses ter comigo, abrir o jogo e gritar-te fortemente um amo-te, mas conti-me e assim me deixei ficar; pouco depois estavas tu ali sentado, de frente para o meu prédio... Em meros segundos conseguiste tornar um monótono dia em algo especial e não te sei dizer bem o porquê. Surpreendeste-me, sais-te da banalidade (e sabes perfeitamente que gosto disso), foste ter comigo e eu tão pouco estava à espera de tal atitude da tua parte, acredites ou não isso preencheu o meu dia, aquela tarde de inverno que antes era dominada pela escala de cinzentos pelo qual o céu estava pintado, estava agora a tornar-se colorida, com suas respectivas e mais variadas cores que é possível imaginar.
Às tantas, já esgotados os temas de conversa, tanto eu como tu não nos queríamos deixar consumir pelo silêncio das palavras que mandava-mos para o ar as coisas mais disparatadas que se possam dizer, até que me lembrei de dizer "não temos nenhuma fotografia juntos, vamos tirar".
Recordo-me de não me teres dado uma resposta concreta, via-te apreensivo, sem reacção, mas não liguei muito, pus o auto temporizador no degrau que estava mais acima e fui a correr para junto de ti, nos 10 segundos que nos restavam, e a tua reacção foi apenas e exclusivamente procurares a minha cara, os teus olhos procuraram os meus lábios e quando os encontraram, quando o alarme intermitente do auto-temporizador estava a aproximar-se do seu fim, beijaste-me.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Capítulo VII de "A espera também cansa"
Destino ou não, não sei. O que é certo é que quando menos espero encontrar-te, apareces tu, deixando-me sempre sem qualquer tipo de resposta. Não te vou mentir, não apareci ali naquele exacto lugar por mero acaso, quis esgotar todas as possibilidades, todas as chances que tinha e tirar as minhas certezas, mas sinceramente pensei que fosse como tantos outros planos mal sucedidos, apenas queria sentir-te perto de mim, senti essa necessidade e não me perguntes porquê.
O céu estava carregado de nuvens, nunca antes tinha visto as nuvens a moverem-se tão depressa que parecia que estavam numa corrida contra o tempo, o céu estava a modificar-se tão brusca e rápidamente que achei estranho, porém não dei demasiada importância; mas quando levantei o meu olhar do ponto onde este se fixava, vi o que surgiu das traseiras dos prédios, algo/alguém que fizera com que a minha ida até ali não fosse em vão, não sei o que quer dizer e muito menos dizer se é bom ou mau, mas a expressão do teu olhar mudou, alterou-se instantaneamente e ali ficaste, a olhar para mim, de longe, com muito espaço por entre nós, assim como ultimamente tem havido. Nem sabes como admiro essa tua capacidade de ficares a olhar e a olhar, durante longos minutos, já o tinhas feito antes, dando-me uma resposta que ainda hoje acho piada, lembro-me perfeitamente que estava picada contigo (algo muito estranho para variar, com certeza), cumprimentei-te com o meu coração a mil, e vi que continuaste a olhar, e eu disse "que foi?", duma maneira que hoje me arrependo, e tu respondeste-me "nada, estava só a olhar para ti", acredites ou não mas a maneira de como me respondeste revelou muito de ti, a expressão com que te apresentas-te perante mim foi totalmente inexplicável.
Ultimamente, tens-te revelado uma surpresa, uma boa surpresa... Tens seguido quase todos os meus passos olhando-me olhos nos olhos e feito notar de que estás a mudar aos poucos e poucos...
Diz-me o que mudou desde há uns tempos para cá, diz-me que me queres e esperarei o tempo que for preciso, tirar-te-ei as dúvidas que te restam e calar-te-ei da nossa maneira, não será o para sempre, mas será um bom momento, cabendo-te a ti decidir...
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Capítulo VI de "A espera também cansa"
Covarde, tão covarde que foste, e só agora me dei conta do quanto. Não tiveste a dignidade sequer de me mostrar a parte de ti que me queria, de assumir os teus actos, de dizeres exactamente o que querias sem jogos pelo meio, guardaste tudo isso só e apenas para ti, sem me pores a par de nenhuma das tuas futuras atitudes, das tuas palavras ou até mesmo, dos teus inauditos sentimentos.
Odeio quando me ocultam coisas a meu respeito, e o que me fizeste tu? Fizeste-me exactamente uma das coisas que mais odeio, fizeste isso provavelmente para não ficares mal perante os teus amigos, provavelmente não me contaste por ser demasiado cedo, demasiado precipitado, algo tão recente que tinhas medo de assentar como sendo mais sério, e de dares um passo maior que a perna. Mas medo, medo todos temos, e se a vida não é vivida a 100%, se não arriscarmos, se não nos testarmos e não nos pusermos à prova, nunca iremos saber se valeu a pena, acabando por nos arrependermos de não termos tentado, por isso, tu sabes qual é o maior dos meus medos; melhor que ninguém o sabes, e sabes também a sua razão, o seu propósito, e quem envolve...
Para vocês rapazes, a conquista é tão importante que chegam a mudar a vossa personalidade durante uns tempos para, quantas mais melhor, sabem exactamente o que fazer e como o fazer para que tudo seja bem feito; mas depois dessa fase, da conquista, do atrevimento, desleixam-se literalmente para o relacionamento e sobretudo para a amizade, já não vos interessa minimamente se ficam ou não com algo de proveitoso depois do vosso grande momento de glória (onde acham que é tudo muito fácil e que as decisões dependem única e exclusivamente do vosso poder de decisão, pensado vocês que é enorme), e nós raparigas, deixamos de ter reacção, choramos até os músculos nos doerem, até os líquidos do nosso corpo secarem, sem produzir mais lágrimas, não nos concentramos, ficamos brutas e sem disposição, e as únicas coisas que não nos saem da cabeça é o tic-tac do relógio, que vai marcando os dias que nos fazem sofrer, e vocês mesmos, as causas...
Mas apesar de serem como são, foram criados o homem e a mulher, porque não sabem nem podem viver um sem o outro, para o mundo ter equilíbrio temos que nos completar sendo um só, poucas pessoas acreditam nisso, e uma mísera percentagem faz parte dos que lutam para mudar essas mentalidades, muita gente me tentou impedir de fazer certos e determinados gestos, mas nunca ninguém, até agora, me fez mudar o meu verdadeiro eu, não sou nem nunca fui influenciável e o que tenho a fazer irei fazê-lo, dá-me apenas tempo para conseguir ganhar a força e a coragem que há tanto procuro. Quando menos esperares ali estarei eu, à tua espera, puxar-te-ei para que me expliques o porquê de não me olhares nos olhos, de não me conseguires enfrentar cara a cara, e o porquê de só me falares de vez em quando, um dia irei agarrar esse teu casaco preto, e dizer-te "olha-me nos olhos, eu não mordo..."
sábado, 6 de novembro de 2010
Capítulo V de " A espera também cansa "
As olheiras não conseguem esconder o que sinto, ultimamente têm sido discussões atrás de discussões e eu já não estava habituada a isso desde que te conheci, conseguis-te fazer com que me esquecesse do que me atormentava, do que me fazia mal, mas depois da conquista, ficámos na corda bamba, e eu acabei por cair… Andei iludida e entusiasmando-me até demais com algo que, mais tarde, se veio a revelar como apenas mais uma tentativa falhada.
Nunca quis ser vítima de história alguma e arrependo-me muito pouco, ou quase nada dos meus actos, não recuando com a minha palavra atrás; mas por mais que me esforce, por mais que queira, não consigo convencer-me de que as tuas atitudes não me afectam, de que as tuas relações não me dizem rigorosamente nada e que o teu sorriso me é indiferente, porque a realidade é contraditória à mentalidade de que me quero interiorizar. Sempre que te sinto por perto, o ar que respiro torna-se mais denso, o meu batimento cardíaco triplica e as minhas mãos começam a tremer, tornando-se inevitável, incontrolável, imprevisível… Não é defeito, é feitio, e cada vez mais se está a tornar numa relação física, porém não meramente, porque sabes, num espaço de tempo tão curto foste sabendo como suscitar o meu interesse com essas tuas picardias, do jeito que apenas tu sabes fazer, com esses nomes e com a relação do “quanto mais me bates mais eu gosto de ti”, fui-me abstraindo do passado acabando mesmo por esquecer o ultimo ano e meio que passou, e tenho a agradecer isso, sobretudo isso.
Assim que sinto o teu cheiro a pairar no ar, os sintomas reaparecem novamente e em consequência vêm o excesso de felicidade, as gargalhadas incontroláveis e desmultiplicadas, e as palavras soltas que por si só não fazem sentido, não formando uma única frase de jeito com nexo.
No entanto nem tudo tem sido épico, nesta semana tens-te tornado tão imprevisível quanto o tempo, causaste-me dias de chuva e outros dias de um sol intenso, causaste-me calafrios e os maiores arrepios, cheguei a ser dócil mas também soube ser fria mas o tempo não se anuncia, não diz quantas horas, dias, meses ou anos poderá permanecer connosco (comigo neste caso concreto), se vai ser constante ou se vai aumentando gradualmente...
Tivera sido a nossa primeira discussão, nunca sentira tanta insegurança em relação a ti. Seria eu? Seria eu que não tivesse sido perfeita, ou estaria eu a ser (mais uma vez), responsável demais para ti... ?
Nunca estive tão chateada que quando isso acabou mesmo por acontecer, aconteceu da pior maneira, e soube exactamente como fazer para me afectar. Não digo que tivesse querido com que nos chateássemos, mas simplesmente não mediu as consequências, e foi aí, prestes a cair no abismo, que me apercebi o quanto gosto dele, neste espaço de tempo tão curto...
De há uns tempos para cá, tornou-se diferente, inconstante, não sabendo com o que contar, porém, quis basear-me no positivismo e que iria mesmo correr tudo bem, mas não, como sempre, maravilhei-me com aquilo que se veio a revelar a não ser tão maravilhoso assim (mas da qual continuava a gostar) e levei com um enorme choque quando o encostei à parede e abri o jogo.
O meu mundo parou, a minha vida deixou de ter forma e começou por se ir desencaminhando aos poucos e poucos, tudo o que antes me tinha dito não dava para ser encaixado na realidade que me apresentava agora naquele exacto momento, fazendo com que fosse o que me causou mais dúvidas, acabando por ser o enorme ponto de interrogação que vejo à minha frente sempre que tento procurar uma justificação...
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Capítulo IV de "A espera também cansa"
Sinceramente já me afectei muito mais pela tua ausência, o que é certo é que desde há uns dias para cá tenho vindo a eliminar-te da minha memória, e apenas guardado as coisas que são boas de guardar e que realmente valem a pena relembrar.
Numa manhã acordei e senti necessidade de dizer para mim mesma “já te esqueci, quem sabe se daqui a um bom tempo, na altura em que eu quiser… “ neste momento apenas ele te consegue pôr para longe de mim, que indirectamente me protege e me faz tão bem ao mesmo tempo.
Depois de ti, podes não acreditar, mas com pouca ou com nenhuma gente estive, simplesmente sentia-te tão presente que não conseguia dar um passo sem pensar em ti ou no que poderias pensar; agora depois de o ter conhecido, posso dizer-te que é ele que me faz vibrar novamente, quando o olho e que me esboça aquele derretido sorriso, eu tremo, é inevitável não o fazer, quando estamos juntos não sei o que fazer e muito menos o que tenho de dizer para quebrar o gelo que ali se instala, fico sem reacção que me começo a rir… Já começo a sentir por ele aquele medo, aquele ciúme que se tem quando muitas das vezes me vejo afectada ou ameaçada por outra rapariga.
Hoje estava de chuva, muita chuva mesmo, tremelicava por todos os lados, de mal agasalhada que estava assim que cheguei à escola; entrei e só depois reparei que ele sempre tivera vindo à minha frente até ali, entrei na sala e sentei-me na carteira junto da janela e apenas conseguia dar atenção à chuva que se passava do lado de fora, o som e o cheiro dela são definitivamente interessantes e talvez se tivessem tornado mais por não conseguir tirá-lo do meu pensamento. Fixei um ponto e reparei que como é de acordo com a estação, a folhas das árvores já estavam douradas, e que muitas delas até já despidas estavam, reparei no pátio que parecia ter-se multiplicado em função dos alunos que estavam na escola, parecia completamente desertificada, chamaram-me várias vezes e quiseram acordar-me do que estava a fazer, mas fingi que nem sequer ouvi, apenas queria sair daquela aula e ir ao teu encontro, ir à tua procura e permanecermos intactos pelo tempo e logo que tocou, assim o fiz, procurei-te por toda a escola, fui aos sítios mais óbvios onde te poderia encontrar e toda molhada, cheia de frio e a tremer, abracei-me à tua cintura, contigo virado de costas para mim. Não foi preciso muito tempo, puxaste-me dali para fora e levaste-me, na parte de trás estava tudo completamente deserto, parecia que não fazia parte das instalações da escola e que era um sítio desconhecido pela grande parte da gente, e ele sempre com um olhar muito sério, a ver o meu queixo a bater de tanto frio que tinha, abriu o casaco e abraçou-me, beijou-me como se fosse para me aquecer, e aí formaram-se os trovões, e que sinceramente não me agradam. Ao sentir o meu coração a bater ainda mais depressa do que o que estava perguntou-me “tens medo?” e numa reposta muito simples lhe disse “agora apenas me assustei, mas medo tenho muitos e o maior é o de te perder”