sexta-feira, 22 de abril de 2011

such a perfect (rainy) day



Tem chovido toda a manhã e continua a chover. A chover muito. Algo me fez ir até à janela ver um bocadinho de tudo à minha volta, talvez porque gosto dessa sensação que nos embala, não sei. Debruço a cabeça sobre os braços cruzados e lá vou observando tudo ao pormenor, sem me escapar nada. As gotas caem uma por uma das telhas; as folhas das árvores abanam com a maior força que tem; o vento sopra fugaz, levando tudo o que encontra à frente. Os animais tentam refugiar-se do vendaval, não querem ser vítimas do mau tempo, tal como eu sou a vitima do teu amor. Fecho os olhos e abro-os de imediato. E assim permanecem esbugalhados. O coração bate velozmente, as mãos ásperas tremem constantemente, o corpo anuncia algo mau, doença, é provável. E os olhos, esses, não demoraram muito para começarem a deixar cair lágrimas pela face mais ou menos redonda e como não poderia deixar de ser, tudo vem ao pensamento, por muito que tente dizer “não”; as alegrias, os ânimos, os choros, as tristezas, a vida inteira, tudo volta, e volta porque quer e precisa disso. Sabem do que me deu vontade? De devorar o mundo, devorar tudo o que vejo, gosto e quero sentir. Levantei-me. Abri a porta e saí. De facto, estava um tempo horrendo, mas mesmo assim, não recuei como muitos fazem, porque são fracos. Descalcei-me, despi-me, molhei-me. Sim, isso mesmo. Fui-me pôr debaixo da chuva e sentir aquilo que possivelmente nunca tinha sentido. Ganhei arrepios pelo corpo acima assim que pus o pé no chão, a água estava gelada, mas sabia tão bem. Aliás, soube tão bem sentir a chuva a cair-me em cima, sentir o vento a soprar-me nos ouvidos, sentir sons que eu nem sabia de onde vinham, apenas sentir e basta. Tudo aquilo, naqueles instantes se tornou mágico, mas também acabou. E depois quando voltei, acompanhada de um sorriso estranhamente estampado na cara, fui ter com ele, toda encharcada, pronunciando apenas: “Dá-me a mão, vem comigo lá fora, quero que tu sintas o que eu senti.”

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